Autismo Em Adultos: Quando o Diagnóstico é Tardio

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Foto: Divulgação

Hoje graças a facilidade e a rapidez das informações, muitos casos de autismo que não foram diagnosticados quando deveriam, estão chegando com muito mais frequência nos consultórios de profissionais que trabalham com o tratamento integral do autismo.

São jovens e adultos; desde os casos mais leves, como os asperges, até os casos muito graves, que por falta de tratamento adequado, de informação e de acesso aos diversos tratamentos multidisciplinares que temos hoje, acabaram crescendo sem  desenvolver progressos significativos E o pior: Sem alcançarem independência,  inclusive dos pais, o que causa para estes, uma terrível angústia, por que o desgaste e a preocupação são muito grandes e a pergunta é uma só: O que fazer agora?

Bem, para os portadores da Síndrome de Asperger e os autistas de inteligência mediana e acima, acabam levando uma vida normal, até que aconteça algo que traz à tona o autismo e não é raro, que até mesmo um dos pais possa acabar sendo identificado também como dentro do espectro.

DIAGNÓSTICO NA ADOLESCÊNCIA

A forma mais comum de identificar o autismo no adolescente dos 12 aos 18 anos, por exemplo, é o comportamento dele nesta fase. Geralmente ele não sabe se relacionar, não consegue lidar com coisas simples como uma mudança de casa, cidade ou escola, além de problemas frequentes nos relacionamentos com colegas e com sua própria sexualidade.

Tudo isso, juntamente com a forma deste adolescente não se comportar como os demais, começa a causar uma angústia nele e nos pais, que não entendem o que pode estar acontecendo. Neste caso, acabam por apresentar um quadro de ansiedade extrema, que não consegue ser solucionado com a terapia tradicional.

Quando isso acontece, exames mais extensos podem confirmar um diagnóstico de autismo. É importante saber que o diagnóstico preciso e minucioso, devem ser conduzidos por psiquiatras, neuropsiquiatras e neuropsicopedagogos, que deverão ter total acesso a todas as informações de como foi a infância deste paciente.

Somente assim, depois de um diagnóstico correto, ou seja, depois de dar nome ao que eles sentem, eles e a família encontram respostas para perguntas que vinham fazendo durante todas suas vidas. E isso traz para o autista e para a família, um alívio imenso.

E QUANDO EU NÃO ESTIVER MAIS AQUI? O QUE VAI SER DO MEU FILHO AUTISTA?

Quanto mais cedo a descoberta do espectro, melhor pode ser a evolução do tratamento e da independência do autista. É muito comum, ao realizar o diagnóstico de TEA em crianças, ver que a primeira preocupação dos pais é como será a vida acadêmica o filho em questão, a preocupação com a fala e como ele vai se relacionar para seguir com o fluxo normal da vida. Passados isto, um pouco mais tarde, já frente a realidade do dia a dia, a preocupação da grande maioria dos pais, principalmente os pais de autistas com grau severo, é: E quando eu não estiver mais aqui? O que será do meu filho autista?

A Neuropsiquiatra, especialista em Tratamento Integral do autismo, Neurodesenvolvimento e Saúde Mental, Dra. Gesika Amorim, lida com estas  situações todos os dias e diz: “- Sabemos que não é fácil e que muitos pais  abandonam suas vidas para cuidar de seus filhos, que em graus mais severos do  autismo, acabam sendo absolutamente dependentes. Dito isto, gostaria de enfatizar algumas coisas:

1- Quanto mais cedo seu filho for diagnosticado, mais chances e melhores elas serão de ele ter INDEPENDÊNCIA, que de fato, é o que mais vai importar e o que realmente ele e vocês, pais, por mais que no primeiro momento possam achar que não, vão precisar que ele tenha.

2- Jamais deixe de contar ao seu filho que ele é um autista. Proteção demais pode trazer grandes prejuízos no futuro, justo quando ele precisará ter o máximo possível de independência para lidar de fato com o mundo. No mais, autistas sem grandes comprometimentos cognitivos, que sabem seu diagnóstico desde cedo, conseguem lidar mais facilmente com todas estas questões mais difíceis, como por exemplo: relacionamento, sexualidade e mudanças – diz a especialista.

Dra. Gesika Amorim diz que, infelizmente, ao menos até agora, desconhece programas de governo que sejam dedicados a cuidar de autistas adultos com graus mais severos, tanto na ausência dos pais, quanto na falta de recursos, condições físicas, estruturais e emocionais de lhes oferecer estes cuidados. Então, ela ressalta a importância das Ongs neste momento.

“ É muito necessário que ONGs, ativistas, profissionais envolvidos com a causa e famílias, se movam e comecem a buscar este tipo de suporte, porque todos tem  direito a vida com dignidade e sabemos que no autismo, principalmente em casos do  adulto com grau severo, esta não é uma realidade, ressalta a médica.”

Mas existe uma luz no fim do túnel. Em 2012, foi sancionada a Lei Berenice Piana, (12.764, 2012), que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Em 2020, foi sancionada a Lei 13.977, de 2020, que cria a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea), que assegura aos portadores, atenção integral, pronto atendimento e prioridade no atendimento e no acesso aos serviços públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social.

Segundo a própria Berenice Piana, a próxima luta será para conseguir através do governo, uma casa de apoio para os autistas que por algum motivo perdem os seus cuidadores. Vamos acreditar e lutar para isso!

Uma outra solução muito sábia e prática a ser tomada pelas famílias que podem contar com outros parentes ou conhecidos, é deixar acordado, através de um advogado, um documento de tutela de seu filho autista, no caso de um dos pais faltarem.

E SOBRE A SEXUALIDADE?

A Sexualidade é inerente ao ser humano. Todos temos. Quando vamos falar da sexualidade no autista, existem muitas nuances envolvidas, pois o autista pode não ter controle sobre suas emoções e por conseguinte, sobre os seus instintos sexuais, explica a Neuropsiquiatra, Dra. Gesika Amorim: “Isso pode causar situações constrangedoras, pois  o paciente dentro do espectro, não tem filtro para falar o que deseja fazer, e em situações extremas,  no caso de pacientes não verbais, pode ocorrer masturbações em públicos ou mesmo o toque dos órgãos genitais de pessoas ao seu redor, o que causa intenso constrangimento.”

E O QUE FAZER?

Dra Gesika Amorim orienta: “Eles podem não conseguir se controlar ou ter postura frente ao certo e errado que é imposto dentro de uma sociedade. Então, é necessário que os cuidadores, terapeutas com experiência em autismo, os profissionais e a família, sejam uma espécie de córtex pré-frontal desse paciente, fazendo-o entender como lidar com essas emoções e sensações; explicando o que é correto ou incorreto e o que pode o que não pode, exatamente como explicamos para uma criança as regras sociais da vida. É importante que eles tenham absoluta confiança em seus pais.”

Nos casos extremos, de autistas adultos não verbais e sem terapia, pode ser  necessário intervir com medicações para contenção de libido.

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