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Como enfrentar o ciclo vicioso da água equilibrando necessidades humanas e limitações do ecossistema?
Tempo de leitura: 4 Minutes

Debate em São Paulo reuniu autoridades na área de recursos hídricos para falar sobre panorama brasileiro e medidas adotadas na Conferência da Água, promovida pela ONU

Todos já ouvimos ao menos uma vez que água é o bem mais precioso para a vida. No entanto, fatores como poluição, mudanças climáticas e desperdício vêm reduzindo nossas reservas. Para se ter uma ideia, o Brasil concentra nada menos do que 12% dos recursos hídricos do planeta, mas um levantamento feito pelo MapBiomas mostra que as superfícies de água do país diminuíram 15% entre 1990 e 2020.

Com o objetivo de jogar luz sobre os principais desafios em torno deste tema cada vez mais urgente, a TyQuant, sistema de inteligência aplicada para a proteção e monitoramento de recursos hídricos, promoveu o debate “Como enfrentar o ciclo vicioso da água: escassez e abundância”. O evento, realizado em São Paulo, reuniu uma série de especialistas para discutir o panorama brasileiro e as principais medidas adotadas durante a Conferência da Água, realizada pela ONU no final de março.

Dentre as personalidades que marcaram presença no encontro estava Ricardo Young. Em sua fala, o empresário, ambientalista, sócio-diretor da CT&I e conselheiro da Synergia, apontou as diferentes visões existentes sobre a água. Para ele, a sociedade civil a vê como direito. Os povos originários, como sagrada. As empresas, como mercadoria. O agronegócio, como insumo. Os governos, como obrigação e risco político. “A água é a essência da vida e a base de um ecossistema pleno, saudável e de uma sociedade sustentável. Assim, esse é um tema que só pode ser tratado de forma holística, integrada e planetária”, revela.

Para Young, as questões em torno da sua preservação trazem uma série de desafios e peculiaridades. “Ao contrário do carbono, que é passível de regulação em suas emissões nacionais, a água desafia os conceitos estruturais de soberania. É um bem comum cuja dinâmica não obedece a fronteiras nem a métricas convencionais. Necessitamos reconhecer a urgência de buscar uma economia regenerativa para que a água, na sua escassez ou abundância, não se torne mais um terror a assolar a humanidade”, alerta.

Segundo Rinaldo Calheiros, engenheiro agronômico, doutor em Irrigação e Drenagem e criador da solução TyQuant, a única maneira de combater a escassez iminente é apostar em soluções baseadas na natureza. Ou seja, que representem um passo definitivo rumo à sustentabilidade.

“Desde as mais antigas civilizações, procuramos resolver os problemas combatendo os efeitos e não as causas. Constroem-se represas, faz-se transposições de rios, constroem-se piscinões. Mas na realidade são ações sobre os sintomas, e chega um momento em que a natureza não consegue mais cobrir a degradação causada por nós. Temos de buscar uma equiparação entre as necessidades humanas e as limitações do ecossistema”, explica.

O desafio de engajar

Na visão de Dal Marcondes, diretor executivo do Instituto Envolverde e presidente da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental, a humanidade se habituou a ter uma relação mágica com a água. Por isso, ele acredita que o maior problema hoje não é de conhecimento ou tecnologia, mas sim de engajamento.

“Passamos os últimos 300 anos transformando a água em uma mercadoria. Qualquer pessoa da classe média para cima abre uma torneira e a água está lá. Aperta um botão e seu esgoto desaparece, coloca os resíduos em um saquinho e ele some. Precisamos nos conscientizar do que acontece antes e depois disso”, diz.

Doutora em Ciências da Engenharia Ambiental e assessora do Instituto de Pesquisa e Estudos Florestais (IPEF), Maria José Brito Zakia concorda com a visão de que o uso da água está no “piloto automático” pela nossa sociedade. Para a especialista, a saída passa por um conjunto de medidas a serem adotadas em diferentes níveis.

“Não existe uma resposta única. São soluções compartilhadas que trarão algum resultado. Temos que assumir nossas responsabilidades onde atuamos e parar de buscar o culpado: é o governo, é o mercado, é a diretoria, é esse ou aquele. Chega de criar seres abstratos para tirar o foco de nós mesmos. Está na nossa mão!”, argumenta.

Nesse sentido, Simone Tenório, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Ecológica Ipê e integrante do Projeto Semeando Água, desenvolvido no Sistema Cantareira, defende a necessidade de trabalhar temas como economia regenerativa em todas as instâncias, desde os escalões governamentais até a sociedade civil e o produtor rural.

“Dentro do projeto Semeando Água, há estratégias integradas em que fomentamos escolas climáticas junto às instituições municipais de ensino. Trabalhamos a parte de pesquisa para fundamentar essas ações, pois projetos de conservação são lições de longo prazo. Assim, nos embasamos em resultados científicos para dar andamento ao que é preciso fazer na prática”, exemplifica.

Importância das políticas públicas

O desastre recente na região de São Sebastião, litoral de São Paulo, também foi lembrado ao longo do debate. O biólogo Edson Lobato, que atua como consultor e gestor ambiental do Instituto Conservação Costeira, afirmou que um evento extremo como esse é resultado de uma série de alterações e transformações na região.

“O litoral norte de São Paulo foi a região que mais cresceu no estado em termos demográficos. Entre 2000 e 2010, o número de pessoas nessas áreas saltou 765%, e o de favelas se ampliou em 882%. Em paralelo a isso, percebemos que os corpos da água têm cada vez menos recursos, gerando conflitos sociais que culminam até em mortes pela disputa da água”, resume.

Jornalista especializada em políticas públicas e gestão de recursos hídricos, Malu Ribeiro destacou os esforços para se avançar com a legislação do setor do Brasil. Diretora da Fundação SOS Mata Atlântica, ela espera que o país aprove o quanto antes a PEC número 6, que coloca o acesso à água limpa e tratada como direito fundamental. O projeto já passou pelo Senado em 2022, mas ainda aguarda apreciação na Câmara.

“Precisamos das florestas para proteger nossas nascentes e minimizar os impactos climáticos. Dos 17 estados da Mata Atlântica, chegamos ao desmatamento zero em 11 deles no passado recente. Então é possível, não é uma meta intangível”, encerra.