Investir na bolsa de valores pode ser mais rentável do que começar o próprio negócio

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O ano de 2020 teve o melhor registro histórico de negociações na bolsa brasileira versus o Produto Interno Bruto (PIB), conforme mostra estudo realizado pela Economatica, maior empresa de informações financeiras sobre a América Latina. Segundo o levantamento, tendo em vista a estimativa do PIB para o ano passado (R$ 6,93 trilhões) e o volume financeiro movimentado na bolsa B3 no mercado à vista (R$ 6,45 trilhões), a relação foi de 93,1%. Já em 2019, a comparação foi de 52,0%, levando em conta o PIB de R$ 7,25 trilhões e o volume negociado na bolsa de R$ 3,77 trilhões. Para se ter uma ideia, em 1995, um ano após o Plano Real, este percentual era de apenas 6,7%.

Isso significa que os brasileiros passaram a investir mais na bolsa de valores e, segundo o agente autônomo de investimento da VCorp Capital, Marcelo Estrela, esta situação se deve a dois principais fatores. “Um relacionado com investimentos e outro com a economia real. As pessoas têm percebido uma menor rentabilidade nos investimentos de renda fixa mais tradicionais e estão procurando alternativas. Compra e venda de ações é uma delas. Além disso, com a popularização dos investimentos em bolsa, mais pessoas têm preferido comprar ações de empresas listadas do que abrir o próprio negócio”, explica.

Em termos práticos, considerando o serviço de frete e transporte de pequenas cargas para comércio, por exemplo, que foi uma das ideias de negócios mais buscadas em 2020 no site do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), abrir uma empresa neste segmento significaria, além do cumprimento das exigências legais, investimentos em insumos, estrutura, segurança, manutenção, qualificação e divulgação, entre outros fatores necessários para o bom funcionamento do serviço. Por outro lado, comprar fatias de um operador logístico terrestre que tem suas ações negociadas na bolsa de valores, a exemplo da JSL S.A, custaria menos de R$10.

“Antes a pessoa tinha dinheiro na poupança e resgatava para montar uma empresa, pedia dinheiro para parentes ou ainda pegava empréstimo. Boa parte do PIB do Brasil girava dessa forma, inclusive boa parte dos funcionários CLT’s brasileiros são contratados por empresas desse porte. Agora que mais de três milhões de CPF’s conhecem a bolsa de valores, mais pessoas querem se ver sócias de empresas de capital aberto acreditando na sua valorização de longo prazo, bem como no aumento da sua capacidade de distribuir dividendos”. Pela primeira vez o volume de compra e venda de ações está se equiparando ao PIB no Brasil. Nos Estados Unidos, o volume chega a ser de 4 vezes o PIB”, destaca Marcelo. 

Em 2021, mesmo com a perspectiva de que a taxa básica de juros volte a aumentar, o cenário não deve ser diferente. Isso porque esta crescente movimentação está diretamente relacionada com a visão a longo prazo. “Um estudo recente apontado também pela Economática aponta que 24 empresas de diversos setores distribuirão dividendos superiores a 2% do valor do preço da ação em 2021. Alguns desses setores são bastante palpáveis para o pequeno investidor, como é o caso do setor de vestuários. Mais vale comprar roupa para revender ou ser sócio de uma empresa listada na B3? Quanto mais popular a bolsa fica, mais ela fomenta a economia real”, defende. O profissional acredita ainda que tal realidade vai impactar diretamente no agronegócio, já que mais empresas do setor devem abrir seu capital, permitindo a negociação de suas ações na B3. “Como temos uma vocação para esse segmento, veremos mais empresas do Centro-Oeste partindo para esse caminho ou acessando o mercado de capitais através de dívidas como os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA’s)”, afirma.

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