Janela Secreta
A morbidade da beleza de Koepp, com a psicologia de King, interpretados pela versatilidade de Johnny Depp, dão vida ao suspense Janela Secreta.
Em A janela secreta (The Secret Window), o diretor e roteirista David Koepp adapta para o cinema um texto do escritor Stephen King, Secret window, secret garden. O personagem principal é Mort Rainey, um escritor de suspense de certo renome, que está com problemas para bolar novas histórias. Koepp, que tem em seu currículo os roteiros de Homem-Aranha (Spider-man, de Sam Raimi – 2002) e O Quarto do pânico (Panic Room, de David Fincher – 2002), foi até o Caribe para conseguir o seu protagonista, o excelente Johnny Depp, que na época estava encarnando o divertidíssimo Capitão Jack Sparrow, em Piratas do Caribe (Pirates of the Caribbean, de Gore Verbinski – 2003)
A trama se desenvolve, mostrando de foco o dia a dia de um escritor solitário, que enfrenta o maior terror de qualquer escritor: sentar na frente do computador, de uma máquina de escrever ou encarar papéis em branco e não conseguir escrever nada.
Aliado a isso Mort Rainey (o personagem principal, interpretado por Depp) sofre com as sequelas de um casamento em processo de divórcio, ocasionado por uma traição de sua esposa Amy (Maria Bello). O roterio, de início, segue de forma ordinal, se costurando com um clima de suspense e dúvida que nós deixa intrigado e nós estiga a ir até o final.
Mort, vive em um chalé isolado da cidade, na beira do lago, na companhia de seu cachorrinho quase cego, o Chico, e de sua ocasional diarista, nem um pouco discreta, que aparece em poucas cenas, mas deixa aquele sentimento de irritação e desconforto no ar. Mort é morno mas sem deixar de ser intenso, seu exterior manifesta emoções confusas e frustradas que ocorrem em seu interior. O cabelo desgrenhado, o roupão surrado da esposa, que ele usa diversas vezes durante o filme, o vício oculto em nicotina, sua má alimentação, que se baseia em salgadinhos, sanduíches e algumas cervejas, e sua desorganização pessoal, deixa uma sensação de dor e apego á quem assisti.
Depp leva o personagem de forma suave, e interna, fazendo com que cada expressão de Mort seja enrolada em uma pergunta lançada para o telespectador: -E agora, o que acontece?
Mas Mort não esta sozinho nessa, com ele esta John Turturro, que interpreta o caipira (John Tiranella), de personalidade violenta, que aparece na vida de Mort acusando-o de ter plagiado uma de suas histórias. A interpretação de Turturro é fantástica, a entonação de sua voz, com um sotaque interiorano do Mississipi, mas o olhar perturbador, dão uma cor a lá King na trama.
Nessa altura a drama se desenvolve com recortes de sonhos e lembranças, voltando para realidade do escritor, que está envolto ao medo, escondendo segredos sombrios de seu passado até para si mesmo. Com isso ele toma atitudes, tão estranhas e confusas, como a neblina em volta de sua casa, mas que ao longo dos 97 minutos do longa, envolvido com uma trilha sonora digna de premiação, entendemos o que se passa, em parte, com o personagem e com o que o cerca.
Mort Rainey é um personagem nebuloso e atraente, seus sentimentos e falas tão precisos são um poema roteirizado.
O filme é bem redondo, responde questões levantadas dentro de si mesmo e deixa um ‘Q no final, combinado com verde sereno do milharal que se levanta no quintal de Mort que pode ser observando pela janela secreta, escondida atrás de uma cômoda velha no final do filme.
É um filmaço! Super recomendo.