Pearl: mistura de “O Mágico de Oz” e “Coringa”

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O novo filme do diretor Ti West é um folk horror de personalidade dos mais interessantes com grande atuação central

Depois de gravar “X – A Marca da Morte” (2022), o diretor Ti West e a atriz Mia Goth gostaram tanto da experiência e da locação que decidiram alongar um pouquinho mais para gravar um segundo filme. Mas não seria uma continuação (isso só vai acontecer em “MaXXXine”, que deve ser lançado ainda esse ano) e, sim, um prelúdio de uma das personagens de “X”, em especial, a história de origem da personagem Pearl. O resultado é um filme ainda melhor que o primeiro.

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Mia Goth é uma força da natureza em cena (Divulgação A24)

“X – A Marca da Morte” se destacava mais pela parte técnica e pela homenagem ao slasher, um sub-gênero de terror comum nos anos 70. Ao focar em um personagem apenas, “Pearl” realiza um estudo de personagem com mais cuidado e consegue desenvolver a protagonista de forma fascinante.

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Ao focar em apenas um personagem, Pearl se sai ainda melhor que X – A Marca da Morte (Divulgação A24)

O primeiro filme da franquia era claramente inspirado em filmes como “O Massacre da Serra Elétrica” (1974). “Pearl”, não, ele mistura uma porção de gêneros e referências pop de tal forma que funciona independente.

O filme se passa no fim da Primeira Guerra Mundial, com a Pearl – vista idosa em “X – A Marca da Maldade” – ainda bem novinha. Ela está isolada numa fazenda cuidando do pai doente sob as ordens da mãe severa. O sonho dela, no entanto, é viver bem longe dali e tem nos filmes a referência e esperança de uma vida de glamour e felicidade.

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A referência torta a O Mágico de Oz é nítida (Divulgação A24)

Em tese, poderia ser um folk horror raíz, mas tem um drama universal de busca por independência muito latente e até sensível, além de suspense, terror, claro, e até um pouquinho de humor ácido. A trama é uma mistura de “Mágico de Oz” do mundo sombrio estrelada pela versão feminina do “Coringa”.

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Como em “X – A Marca da Morte”, o visual chama bastante atenção, com destaque para a fotografia em tons saturados e a recriação de época sutil, mas certeira. Porém, nada chama mais atenção que a própria a atriz Mia Goth. Se no outro filme da franquia ela já tinha deixado uma boa impressão em papel duplo, aqui ela, simplesmente, arrasa. Domina e toma conta de uma personagem difícil que tinha tudo para cair no caricato ou se mostrar incompreensível. Mas Mia dá a ela uma camada tão tocante de sofrimento que é impossível não se envolver, mesmo sendo impossível concordar com seu espiral de loucura e surto. O monólogo dela na reta final, desde já, é um marco.

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A cena final, desde já, um marco no cinema de terror contemporâneo (Divulgação A24)

Uma atuação icônica que deveria ter tido mais atenção nas premiações. Mia Goth chegou a concorrer em algumas associações de críticos levando até mesmo a associação do estado Havaí, além de ter sido indicada no Independent Spirit Awards, o prêmio do cinema independente. Entretanto, foi sumariamente ignorada em prêmios maiores, como o Oscar e o Globo de Ouro. Muito se comenta que o terror tem dificuldade de ser reconhecido como arte de “alta qualidade”, mas, nos anos recentes, o gênero vem se mostrando um dos mais criativos e notáveis do cinema americano. Filmes como “Corra!”, “Nós”, “Hereditário” e “Middsomar – O Mal Não Espera a Noite” estão entre os mais interessantes dos últimos anos. Até o grande diretor Martin Scorsese, de clássicos como “Os Bons Companheiros” e “Taxi Driver”, elegeu “Pearl” como um dos seus favoritos de 2022, ao lado do drama “Tár”, indicado a 6 Oscar, incluindo, Melhor Filme.

Filme: Pearl

Diretor: Ti West

Duração: 1h42m

Onde: nos cinemas desde 9 de fevereiro

Por: Eduardo Pepe

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