Voltando a um mercado de trabalho diferente

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Crédito/Pixabay

Em maio, o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – divulgou que, com o avanço do coronavírus, o desemprego havia aumentado em todas as regiões do país. A taxa de desocupação passou de 11%, no fim de 2019, para 12,2%, no trimestre encerrado em março de 2020 – aumento de 1,2 milhão de desempregados.

Com este panorama, um dos conceitos mais presentes atualmente é o da “reinvenção” para se adaptar a novos estilos, métodos e até setores de trabalho. Se há alguns meses a aplicação da tecnologia para reuniões em entrevistas era ainda feita em regime experimental por uma maioria, com a necessidade de distanciamento social todo um ambiente corporativo teve de esquecer as reuniões presenciais e aderir ao sistema virtual.

A adesão ao home office já é certa para muitos escritórios, pelo menos até o fim do ano. Isso se dá numa tentativa de enxugar diversos custos fixos com estrutura, neste momento de crise econômica, mas também a partir da conclusão de que o trabalho tem fluído bem partir da casa de cada profissional.

Para Flora Victória, mestre em Psicologia Positiva, o home office é uma saída muito interessante para a manutenção da economia de forma consciente, contudo é importante notar que para alguns a mudança brusca ainda provoca dúvidas.

Uma pesquisa recente realizada com duas mil pessoas de todas as idades e de todo o país verificou que 73% dos profissionais preferem não trabalhar de casa em tempo integral, depois da pandemia por razões como a invasão de seu espaço pessoal e a falta de convívio social.

“Há muitos estudos que comprovam que a sociabilidade só contribui para a saúde mental do ser humano, ela nos constitui e a partir dela o indivíduo aprende a confiar em si mesmo e não temer o mundo. Por isso, mesmo que o trabalho seja feito a partir da residência de cada um, este convívio não pode ser abandonado, mesmo que a princípio tenha de ser via ferramentas tecnológicas, inúmeras hoje em dia, que possibilitam esta interação social”, explica Flora.

Novos padrões de comportamento

Além da mudança do campo físico para o virtual, outra que se anuncia engloba as características deste novo profissional, as chamadas soft skills.

“Independência e autogestão serão fundamentais”, cita Flora. “Embora a característica de se autogerir tenha sido vista com muita positividade nos últimos anos, com o isolamento social essa capacidade de organização individual, com foco nas tarefas relevantes de sua ocupação, passa a ser um dos grandes diferencias para se manter ativo e relevante no mercado de trabalho”, completa. 

Isso, absolutamente, significa viver fechado em seu próprio mundo, e sim agir de uma maneira mais responsável e engajada. Flora menciona uma pesquisa, publicada no Journal of Neuroscience que aponta que o egocentrismo é um traço que pode ser considerado normal no ser humano, mas existe uma área do cérebro que ajuda a regular o egoísmo, chamada “giro supramarginal”. Uma vez que esta estrutura está em seu pleno funcionamento, a empatia vem à tona.

Para Flora a empatia será a tônica das relações de trabalho no futuro, desde o gesto mais simples, como o uso de uma máscara e o lavar das mãos quando for necessário ter um encontro pessoalmente, como já vem ocorrendo agora, à colaboração profissional em diversos níveis.

E embora, a empatia dependa de conexões neuronais, desenvolvidas principalmente durante a infância, na chamada “janela de oportunidade”, hoje se sabe, como mostra o Journal Social Neuroscience, que habilidades empáticas podem ser aprendidas por meio de estimulação social e emocional, independente da idade.

“No momento, estamos combatendo uma pandemia que gera medo, ansiedade pela própria vida e a dos demais, mas acredito que nos próximos anos conseguiremos detectar como esta limitação foi capaz de dar direcionamentos mais saudáveis para as relações humanas, inclusive, as de trabalho”, finaliza a especialista.

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