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Todo ano é a mesma coisa: inicia janeiro e editais de faculdades particulares são publicados na busca de novos talentos para ingresso na carreira de professor, geralmente, após uma massiva demissão.

A mercantilização da educação e a venda de ações de faculdade no mercado acionista demanda que custos sejam reduzidos a fim de satisfazer investidores, afinal, o investimento de grandes empresas parece indispensável para a evolução e melhoria tecnológica do ensino, mas te convido, agora, a refletir sobre isso.

Antes de satisfazer acionistas, determinadas faculdades deveriam investir em agradar os alunos e se atentar ao fato de que muitos desses não têm a possibilidade tecnológica que dele é demandada: aula on line, prova on line, tcc on line etc.

Vivo em um bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro e, apenas no final de 2022, esse bairro foi beneficiado com a internet de fibra ótica. Imagine os alunos de bairros mais pobres que precisam fazer verdadeiros milagres para a internet funcionar em determinado cômodo da casa? Pois bem, esse é apenas um primeiro ponto de alerta: agradar acionistas a fim de atrair investimentos e investir em tecnologia não necessariamente vai agradar àquele que realmente é o grande investidor do ensino universitário, que é o graduando.

Um dos modos de cortar gastos é demitir professores que estão há muitos anos na casa, acumulando triênios, quinquênios e até decênios a fim de contratar novos professores para baratear o valor do salário. Nesse tempo em que acompanho professores e sindicatos, leio as mais absurdas ofertas: R$ 35 reais por hora aula para o professor de sala de aula; R$ 19,00 para professor de Núcleo de Prática Jurídica, R$ 690,00 mensais para professor tutor de arquitetura.

Dizer que isso existe porque “há quem aceite” é de um reducionismo tão absurdo quanto às propostas esdrúxulas de salário. Sugerir que paremos de reclamar e que nos adaptemos à consciência coletiva de que o professor não é valorizado, que devemos virar uber (outra profissão extremamente desvalorizada), babá ou qualquer outra coisa que não sonhamos ser significa conformismo.

Não há nada de errado em ser uber, babá, prostituta, balconista ou qualquer outra profissão porque todos os trabalhos são DIGNOS, contudo, nojenta é a desvalorização do professor, profissão sem a qual não haveria nenhum outro profissional.

Percebo que essa desvalorização está invadindo o inconsciente do professor empreendedor. Vejo professores vendendo cursos de Direito incríveis e seu conhecimento a R$ 99,00 reais, talvez desejando vender rápido, contudo, como mulher solteira que sou, frequentemente o algorítimo do instagram me oferta cursos de “conquista de marido” a R$1.300,00; de como ser sedutora em fotos a R$ 400,00. Em outras palavras, é mais barato aprender a fazer peças de Direito Penal do que aprender a ser sexy ou como casar. Não, não comprei esses cursos porque estou empenhada em gravar os meus, a um preço acessível, mas não abaixo do que acho que mereço ganhar. Parcelamento em 12x está ai para tornar a educação acessível sem desvalorizar o professor.

Professor, eu não quero que você se adapte. Eu quero que você se revolte e, fico feliz, como professora, de ter a oportunidade de ser colunista de uma revista para manifestar a minha indignação com os salários e tornar pública a humilhação que vocês passam quando são demitidos por “serem caros demais” ou contratados por serem “mais baratos”.

O professor não aceita esse tipo de salário porque gosta e é por isso que as faculdades continuam assim. Ele aceita esse trabalho porque está desacreditado no seu poder de IR CONTRA AO SISTEMA e isso vai além de dizer não e ver sua família passando fome.

Professores são, frequentemente, tolhidos em sua liberdade de expressão. Por muito pouco, professores são demitidos porque foram vistos em baladas ou restaurantes inapropriados (segundo fofocas, fui demitida por isso), logo, raríssimos ousariam desafiar o sistema. Entretanto, fica aqui o meu manifesto: nada gera mais marketing negativo do que uma faculdade que pensa mais em artistas ou grandes investidores, mas oferecem ao seu capital humano (professores) um salário completamente indigno e incompatível com a titulação exigida.

Por: Simone Alvarez Lima.

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