Em entrevista, Rosangela Marto fala sobre superação e redescoberta após relacionamento abusivo
A literatura tem desempenhado um papel crucial ao abordar temas sensíveis como o relacionamento abusivo, oferecendo voz e visibilidade para experiências que muitas vezes são invisibilizadas. O impacto de obras que tratam desse tema vai além da narrativa pessoal; elas funcionam como um farol para quem ainda está preso em ciclos de violência, mostrando que há caminhos para fora dessa realidade. Em um mundo onde ainda é difícil falar abertamente sobre abuso, histórias como a de Rosangela Marto são fundamentais para romper o silêncio e estimular discussões necessárias.
Na autobiografia “De volta para o meu lugar”, Rosangela Marto nos apresenta um relato poderoso de resiliência e autodescoberta, onde revela o processo de reconectar-se com a paixão pela vida após anos em um relacionamento abusivo. A obra não é apenas uma história de amor, mas também um manifesto de superação, encorajando mulheres a acreditarem que, mesmo depois de experiências traumáticas, é possível reconstruir a autoestima e a confiança em si mesmas.
Rosangela narra como, após quatro décadas de afastamento, reencontrou o amor de sua juventude, Eder, um reencontro que a ajudou a resgatar a confiança perdida durante um casamento abusivo. Entrelaçando memórias de juventude e as dificuldades enfrentadas na vida adulta, a autora traz à tona uma reflexão sobre o poder transformador do amor, não apenas no sentido romântico, mas também no amor-próprio, algo que ela precisou reconquistar após anos de submissão emocional.
O processo de recuperação emocional de Rosangela começou quando ela percebeu que estava presa em um ciclo de abuso emocional com um homem que exibia sinais claros de Transtorno de Personalidade Narcisista. Ao se mudar para a Alemanha, longe de sua rede de apoio, a autora se viu isolada em um país estrangeiro, sem o suporte de familiares e amigos, o que dificultou ainda mais sua saída desse relacionamento tóxico.
Foi somente após o retorno ao Brasil que ela encontrou forças para se desvencilhar completamente dessa relação e, aos poucos, redescobrir sua essência. O reencontro com Eder marcou o início de uma nova fase de sua vida, na qual Rosangela finalmente se permitiu viver de forma plena, sem as amarras do passado e, mais importante, sem abrir mão de si mesma.
Em “De volta para o meu lugar”, Rosangela Marto compartilha uma jornada de cura e reencontro, tanto com o amor de sua vida quanto com sua própria essência. Ao narrar sua experiência de abuso e superação, ela se coloca como uma voz de esperança para mulheres que se veem em situações semelhantes, provando que nunca é tarde para recomeçar e encontrar a felicidade, mesmo após décadas de dor e sofrimento. Confira a entrevista completa:
Em “De volta para o meu lugar”, você compartilha sua experiência em um relacionamento abusivo. Como foi o processo de reconhecer que estava em um relacionamento tóxico e tomar a decisão de sair dele?
O processo de reconhecer que estava em um relacionamento abusivo foi lento e doloroso. Eu não compreendia o Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN) e confundia gestos de carinho, como viagens e presentes, com mudança real. No entanto, o abuso emocional sempre retornava, criando um ciclo difícil de romper. Após várias tentativas de resolver a situação e com minha saúde comprometida, tomei a corajosa decisão de sair. Esse passo foi crucial para recuperar minha vida e paz.
Você menciona que viveu isolada em um país estrangeiro com barreiras culturais e linguísticas. De que forma esse isolamento impactou sua capacidade de pedir ajuda e lidar com o abuso emocional?
Viver isolada em um país estrangeiro, com barreiras culturais e linguísticas, afetou minha capacidade de pedir ajuda. O controle que ele exercia sobre minha vida, monitorando meus dispositivos e conversas, me afastou das pessoas que poderiam me apoiar. Ele se apresentava como o genro ideal, telefonando para minha mãe e gerando o medo de que ninguém acreditasse em mim. Essa sensação de solidão e desconfiança tornou ainda mais difícil enfrentar o abuso emocional que vivia.
Ao longo da sua história, você fala sobre renunciar a si mesma para se encaixar no casamento. Como você conseguiu reconstruir sua identidade e reencontrar sua essência após o divórcio?
Reconstruir minha identidade após o divórcio foi desafiador, mas essencial. O apoio de terapeutas foi fundamental, especialmente quando descobri que vivia com uma pessoa com Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN). Essa compreensão me ajudou a entender as dinâmicas do meu relacionamento e os impactos na minha autoestima. Por meio da terapia, comecei a redescobrir quem eu realmente sou, superando os traumas e abraçando minha verdadeira essência.
Muitos leitores podem se identificar com sua jornada de resiliência. Que conselho você daria para mulheres que, assim como você, estão presas em relacionamentos abusivos e não sabem como sair dessa situação?
Para mulheres que estão em relacionamentos abusivos, meu conselho é buscar ajuda profissional, especialmente de terapeutas que entendam o Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN). Isso é fundamental para se fortalecer emocionalmente e tomar decisões. Além disso, consultar um bom advogado é essencial para garantir que você tenha apoio legal na transição. Lembre-se de que você não está sozinha e é possível reconstruir sua vida.
A reconexão com o seu antigo amor, Eder, parece ter desempenhado um papel importante na sua jornada de cura. Como esse reencontro te ajudou a resgatar sua autoconfiança e a acreditar novamente no amor?
O reencontro com Eder foi fundamental na minha jornada de cura. Com ele, aprendi a valorizar quem sou, pois ele me faz sentir livre e desejada. Ele me incentivou a seguir o sonho de ser escritora e sempre enxergou qualidades em mim que eu não conseguia ver. Seu amor, que eu achava que não merecia, me mostrou que é possível ser amada e respeitada, mesmo aos 60 anos.
Durante sua trajetória, passou por uma transformação pessoal que envolve o reencontro com sua cidade natal e com a sua essência. Como voltar para Jundiaí simbolizou essa volta para si mesma e para a vida que desejava?
Voltar para Jundiaí foi um recomeço incrível. Senti como se pudesse respirar novamente. Estar perto das pessoas que amo, como minha mãe, minhas filhas e meus genros – e agora o Eder – é indescritível. Aqui, consigo ser quem realmente sou. Cercada de amor e apoio genuíno!
Você descreve que a narrativa de sua autobiografia tem o objetivo de mostrar que é possível realizar sonhos e encontrar felicidade após traumas. O que mais você espera que as leitoras levem de inspiração ao ler sua história?
Espero inspirar as leitoras, mostrando que recomeçar é possível em qualquer fase da vida, independentemente das dificuldades. Quero compartilhar conhecimentos sobre relacionamentos, saúde mental e autoconhecimento. Além disso, desejo promover a esperança, encorajando todas a encontrarem amor e luz mesmo após períodos de dor. Por fim, quero destacar a importância da solidariedade e compreensão diante dos desafios que todos enfrentamos.
Em “De volta para o meu lugar”, você fala sobre envelhecimento com gratidão e felicidade. Como foi para você abraçar essa nova fase da vida e perceber que nunca é tarde para recomeçar?
Abraçar essa nova fase da vida foi surreal, é algo pelo qual sou grata diariamente. Nunca imaginei que poderia passar de um estágio de frustração e incapacidade para estar agora na melhor fase da minha vida. Sinto como se estivesse começando minha vida adulta, e essa nova perspectiva sobre o envelhecimento é realmente formidável!
A luta pelo seu espaço pessoal é algo que você valoriza muito no livro. Como encontrar esse “espaço só seu” foi fundamental para sua recuperação emocional após anos de relacionamentos difíceis?
Encontrar um “espaço só meu” foi fundamental para minha recuperação emocional. Ao identificar meus valores inegociáveis, como honestidade e espiritualidade, percebi que esse lugar é sagrado e só deve acolher pessoas que trazem algo positivo. Infelizmente, levei muito tempo para descobrir isso, mas, felizmente, encontrei.
Quais foram os maiores desafios ao compartilhar sua história de abuso e superação em um livro? Houve algum momento em que você hesitou em publicar a autobiografia?
Sim, hesitei em compartilhar minha história. Cheguei a dividir o livro em duas partes: uma sobre meu romance com Eder e outra sobre relacionamentos tóxicos, que provavelmente eu jamais publicasse. Tive medo das possíveis reações da pessoa envolvida, mas ao refletir sobre o impacto que minha história poderia ter na vida de outras mulheres, criei coragem e decidi juntar tudo em um único livro.
Você espera que “De volta para o meu lugar” traga apoio emocional e inspiração para mulheres em situações semelhantes. Como você acredita que o poder da sua narrativa pode impactar a vida de suas leitoras?
Acredito que minha narrativa pode impactar as leitoras ao fazê-las se identificarem com minha história, refletindo sobre suas próprias vidas. Já recebi depoimentos de mulheres que, ao lerem minha experiência, se sentiram motivadas a retomar o controle de suas vidas e buscar a felicidade. Isso me traz uma enorme gratidão e realização do meu propósito.
Redes sociais da autora:
Instagram: @rosangela.marto
LinkedIn: Rosangela Marto