Igor Cartiê fala sobre xenofobia e representatividade na internet: “Quero ser o caminho para outras pessoas”

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O jornalista Igor Cartiê, de 26 anos, natural de Itajuípe no sul da Bahia, ganhou destaque na internet no último ano após conseguir chamar atenção de celebridades nacionais: como o YouTuber Felipe Neto, a Influenciadora Gkay e até de Anitta no qual ambos interagem esporadicamente.

Se destacando nas redes sociais usando sua principal meio de influência, a rede social Twitter, Igor já pode se considerar um dos expoentes no meio da comunicação atual, além de ser considerado um dos jornalistas mais influentes na plataforma, o jovem de descendência indígena no qual ele têm orgulho de revelar, abriu seu coração numa entrevista para Matéria Livre onde falou sobre preconceito, racismo, xenofobia e o desafio de se destacar na internet.

ML: Pra começar, como surgiu você na internet?

R: Muita gente tem essa dúvida e eu até mesmo tenho (risos). Eu só sei que eu comecei a escrever muito cedo, eu era apaixonado pelas revistas da Capricho, todo mês eu ia na banca comprar, naquela época era caro mas eu juntava dinheiro, e a partir daí o desejo veio de estar no lugar daqueles jornalistas entrevistando as pessoas que eu gosto, ouço, até que os anos se passaram, fiz o Enem e escolhi jornalismo. Comecei a escrever num site conhecido por uma galera da internet porque cobria premiações, depois fui passando e passando até hoje não parei.

ML: Qual foi o momento que você percebeu que ia ser seu trabalho?

R: Quando eu ganhei meu primeiro dinheiro escrevendo em sites. Fiquei um mês sem parar, dormia já pensando na pauta do outro dia e era assim, até que eu juntei o dinheiro e comprei um celular pra mim. É uma história bem chata porque infelizmente cai num golpe.

ML: Você foi considerado um dos jornalistas mais influentes do Twitter onde você é verificado na rede social. Houve algum momento que você se deu conta que estava ganhando destaque na Internet?

R: Ainda não. Eu só tão pé no chão, sabe, eu posso estar falando contigo agora e no outro dia entrevistar a Anitta, pra mim é trabalho igual. Mas posso dizer que quando o Felipe Neto me seguiu no Twitter, eu confesso, eu falei comigo mesmo “algo está acontecendo”! Ter esse destaque é muito perigoso, perigoso mesmo, já sofri ataques de ir para hospital. As redes sociais são bem difíceis quando você enxerga o lado ruim dela, lá no Twitter tudo é maximizado, as pessoas entendem o que elas querem e por ser uma plataforma de interação fica quase impossível controlar o alcance ainda mais se você for verificado que nem eu.

ML: Eu li um tweet seu que você dizia o quanto era difícil pra quem mora no interior ser ‘notado’ e levado a sério, você estava falando de xenofobia?

R: Sim. Sou do interior do estado da Bahia, de Itajuípe, uma cidade apaixonante, cheia de cultura, história, pessoas talentosíssimas, e existe diferença sim no interesse público. Quantas pessoas do sul da Bahia você vê nos noticiários, ganhando destaque na mídia, na internet? É sobre isso: Exportar o nosso povo também. O Brasil não é só as grandes capitais. Existem muitos talentos no interior do país e há sim xenofobia sobre isso dentro dos estados ainda mais se você for negro aí que você se torna invisível!

ML:  Você então quer mudar essa estatísticas?

R: Meu Deus Sim. Sou embaixador do Prêmio Jovem Brasileiro e isso é tão importante pra mim, foi uma certeza que estava precisando, a gente começa a questionar várias coisas como ‘Por que eu?’, ‘Será que mereço esse lugar mesmo?’, e sabe porquê vêm isso porque não existe nenhuma referência nossa por aí?! Eu poderia contar nas mãos. A internet é branca e do sudeste, as coisas só acontecem por lá,  mas e aí, a gente está fazendo algo pra mudar isso? Eu acho que quando algo é falado e escutado temos algo a se pensar. Eu quero que a gente seja espelho também. Nossa referências são todas de fora.  Eu quero ser o caminho para outras pessoas.

ML: Falando sobre referências, quem te inspira?

R: Eu cresci com a imagem distorcida sobre o que era legal, não tinha gente preta fazendo o que eu gosto, hoje, mas depois que me reconheci como homem preto, nordestino tudo mudou. Viola Davis, Lázaro Ramos, Felipe Neto e Gilberto Gil ganharam meu coração.

ML: Você expôs um caso de racismo que sofreu num supermercado, para você o racismo no Brasil hoje está mais escancarado que antes?

R: Escancarado não mas que existe de forma maquiada sim, precisamos falar que racismo não é só chamar alguém de macaco, cabelo ruim, bandido de morro, vai além, racismo é quando você não dar atenção ao que seu amigo preto fala sobre passar por isso, racismo também é fazer acepção de pessoas pela cor. Você já olhou o seu grupo de amigos? Quantos negros têm? Entende? 

ML: Não podia deixar de perguntar sobre sua paixão por reality show, entraria em um?

R: Eu fui chamado para um reality esse ano mas meus amigos não quiseram ir comigo, era da Netflix. Por muito tempo eu sonhei todo dia estar no BBB por exemplo mas hoje se for pra acontecer que seja se o universo quiser, com o tempo a gente aprende a priorizar outras coisas, coisas do tipo saúde mental, mas eu amaria estar lá!

ML: Para encerrar qual dica você daria pra quem quer começar na internet como Jornalista, Influencer e qual perfil você indicaria para acompanharem? 

R: Estudar, estudar, estudar, sobre tudo, internet, leis, etc… eu digo que se você quer trabalhar na internet faça uma faculdade de comunicação, isso muda todo o ‘rolê’, se profissionalizar né? Eu indicaria o perfil do Spartakus, Ismael Carvalho, Tukumã Pataxó, são perfis que além de trazer entretenimento trazem cultura.

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