Entrevista com Paulo Fernandes Biao

Paulo, você nasceu em Belo Horizonte e se formou em Ciência da Computação pela Faculdade Estácio. Como foi sua experiência durante a graduação e como ela influenciou sua carreira?
Paulo: Desde muito cedo eu tinha curiosidade por tecnologia. Meu primeiro contato foi em 1995 e, a partir daí passei anos explorando, formatando, modificando máquinas e aprendendo tudo sozinho, do Windows ao Linux. Essa curiosidade natural me levou à aplicar tecnologia na área de segurança. Minha graduação em Ciência da Computação foi um divisor de águas. Eu vinha de uma vivência muito prática em tecnologia, mas foi na faculdade que eu consegui consolidar a base teórica que faltava para crescer com segurança na área. A Estácio me deu estrutura, contato com professores experientes e acesso a projetos que ampliaram minha visão. A combinação entre prática e teoria me ajudou a desenvolver um raciocínio mais estratégico, algo que hoje aplico diretamente no desenho de arquiteturas, nos meus projetos de cibersegurança e na construção de soluções para infraestruturas críticas.
2. O que o motivou a seguir carreira em cibersegurança e tecnologia?
Paulo: A tecnologia sempre fez parte da minha vida, desde cedo eu desmontava equipamentos, configurava redes e tentava entender como os sistemas se conectavam. Quando entrei no mercado, percebi que a segurança era o “calcanhar de Aquiles” de muitas empresas. Eu descobri brechas, riscos e vulnerabilidades que poderiam causar grandes prejuízos. Foi então que entendi que a cibersegurança não era apenas uma área técnica, mas uma missão. Trabalhar com segurança é proteger pessoas, instituições e economias inteiras. É isso que me motiva até hoje.
3. Você trabalhou em projetos importantes para instituições como Banco do Brasil, Banco Central do Brasil, HSBC e Banco Safra. Qual foi o projeto mais desafiador e como você o superou?
Um dos projetos mais desafiadores foi a modernização de um grande ambiente de segurança para uma instituição financeira nacional. A complexidade técnica era enorme, o ambiente não podia parar e cada decisão precisava ser precisa. Superamos esse desafio com planejamento obsessivo, testes exaustivos e muito trabalho em equipe. Esse projeto consolidou minha visão de que infraestrutura crítica exige não apenas competência técnica, mas resiliência, comunicação e liderança.
4. Como foi a experiência de coordenar a integração de mais de 250 dispositivos de CFTV e alarmes no Banco Central em Belo Horizonte?
Foi uma experiência marcante na minha carreira. Integramos mais de 250 dispositivos entre câmeras, alarmes e sistemas de controle, garantindo rastreabilidade, comunicação segura e operação contínua. A responsabilidade era enorme, porque qualquer falha poderia impactar um ambiente extremamente sensível. Trabalhei lado a lado com equipes multidisciplinares, definindo padrões, testando cada componente e garantindo conformidade técnica. Esse projeto elevou meu nível de maturidade profissional e me preparou para desafios ainda maiores.
5. Você é sócio da Triunfo Digital desde 2012. Como foi essa experiência e como ela contribuiu para seu crescimento profissional?
Paulo: A Triunfo Digital me deu a oportunidade de unir visão estratégica, experiência prática e espírito empreendedor. Trabalhar com segurança eletrônica, monitoramento e análise de risco por tantos anos me moldou para atuar com precisão em ambientes críticos. Além disso, a empresa abriu portas para que eu pudesse desenvolver soluções próprias e entender profundamente as necessidades reais de clientes corporativos. Essa vivência foi fundamental para eu me tornar arquiteto de sistemas e, mais tarde, especialista em cibersegurança.
6. Você desenvolveu projetos inovadores como SecureBank, HealthGuard e PhysiDigital. Como surgiu a ideia para esses projetos e como eles podem ajudar a fortalecer a segurança digital?
Paulo: Esses projetos nasceram da minha vivência prática aliada à necessidade crescente de inovação na cibersegurança. O SecureBank surgiu como resposta ao aumento de ataques direcionados ao setor financeiro. Já o HealthGuard nasceu da urgência de proteger sistemas hospitalares e dados clínicos, que são extremamente sensíveis. O PhysiDigital foi criado para antecipar riscos em ambientes industriais. Cada solução foi construída com base em Zero Trust, automação e inteligência adaptativa, com foco em reduzir superfícies de ataque e aumentar a resiliência operacional das instituições.
7. Como você vê o futuro da cibersegurança e quais são os principais desafios que precisamos enfrentar?
Paulo: A cibersegurança será, cada vez mais, um campo de guerra digital. Ataques estão se tornando autônomos, altamente sofisticados e orientados por inteligência artificial. Vejo um futuro onde a segurança precisa ser preditiva, não apenas reativa. Os grandes desafios serão: proteger infraestruturas críticas, combater deepfakes e inteligência artificial maliciosa, lidar com ransomware avançado e garantir que empresas adotem padrões modernos como Zero Trust e NIST CSF 2.0. Somente a combinação entre educação, tecnologia e processos robustos será capaz de criar ambientes realmente seguros.
8. Você mantém uma produção técnica ativa com artigos e projetos open-source no GitHub. Por que é importante compartilhar conhecimento e tecnologia?
Paulo: Compartilhar conhecimento é acelerar a evolução do setor. Eu acredito que tecnologia só cumpre seu papel quando melhora a vida das pessoas. Publicar artigos, códigos e frameworks ajuda outros profissionais, encoraja inovação e cria uma comunidade mais preparada. Além disso, é uma forma de retribuir tudo o que aprendi ao longo da minha jornada.
9. Você tem várias certificações reconhecidas internacionalmente. Como você se prepara para obter essas certificações e como elas contribuem para sua carreira?
Paulo: Minha preparação é sempre estruturada: estudo oficial, prática constante e resolução de cenários reais. Não busco certificação apenas para ter um “selo”, mas para aprofundar meu domínio técnico. Cada certificação me levou a explorar áreas novas, conectar conceitos e fortalecer minha credibilidade como especialista. Elas abrem portas e demonstram comprometimento com excelência.
10. Como você acha que sua experiência e conhecimento podem ajudar a inspirar outras pessoas a seguir carreira em cibersegurança e tecnologia?
Paulo: Acredito que minha trajetória mostra que é possível começar do zero, crescer com esforço, assumir grandes responsabilidades e alcançar reconhecimento internacional. Sempre digo que tecnologia transforma vidas, inclusive a minha. Quero inspirar outras pessoas mostrando que, com dedicação e aprendizado contínuo, qualquer um pode chegar muito longe na área.
11. Você reside em Deerfield Beach, na Flórida, desde 2020. Como foi a experiência de se mudar para os EUA e como você se adapta à cultura local?
Paulo: A mudança foi intensa, mas extremamente enriquecedora. Chegar aos Estados Unidos me fez expandir minha visão de mundo, aprender a lidar com novas oportunidades e desafios, e descobrir um estilo de vida mais equilibrado. Deerfield Beach é um lugar incrível: seguro, acolhedor e com uma energia muito positiva. A adaptação cultural aconteceu naturalmente, especialmente porque a área tem muitos imigrantes e profissionais de tecnologia.
12. O que você gosta de fazer em seu tempo livre e como você equilibra trabalho e vida pessoal?
Paulo: Sou apaixonado por tecnologia, mas também valorizo muito meu bem-estar. No meu tempo livre gosto de caminhar pela praia, gravar vídeos de drone, estudar e aproveitar momentos com amigos. O equilíbrio vem de uma regra simples: produtividade não é sobre trabalhar mais, mas sobre trabalhar com propósito. Quando faço isso, encontro espaço para tudo o que importa.
