Locke e a instabilidade da vida

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Alerta de spoiler’s

O filme Locke teve sua data de lançamento no dia 28 de março de 2014, na Finlândia. O diretor foi Steven Knight, o aclamado roterista da série de televisão Peaky Blinders. Dipôs de um orçamento: 2 milhões USD e ganhou os seguintes prêmios:

Divulgação – Steven Knight e Cillian Murphy em bastidores de Peaky Blinders

British Independent Film Award – Melhor Roteiro para Steven Knight e o Prêmio do Cinema Europeu de Melhor Montador para Justine Wright.

“A vida do brilhante Ivan Locke muda completamente quando recebe um telefonema ameaçando a segurança de sua família e sua carreira. Ele embarca em uma corrida contra o tempo, em que só tem 90 minutos.”

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Essa é a sinopse do filme, que pouquíssimo conta sobre a envergadura psicológica e o cataclisma poético da obra.

O filme inteiro se passa em um único cenário: o carro de Ivan Locke (Tom Hardy), o que é muito interessante pois,  todas as nuances do filme vão depender exclusivamente das ações e expressões do personagem. E mais uma vez Tom Hardy não deixa nada a deseja com sua brilhante atuação.

Ivan está passando por conflitos, guerras internas, que levaria facilmente qualquer pessoa a uma crise histérica. 

Dentro do carro, em movimento, Ivan faz inúmeras ligações, para pessoas que fazem parte do seu dia-a-dia e da sua história, através dos telefonemas podemos perceber como essas pessoas influenciam em sua vida e como ele interage na vida delas.

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Mas o mais importante desses movimentos minuciosos que o Ivan Locke realiza através de suas expressões, é máxima que ele repete com cautela:

“Vai ficar tudo bem. Eu vou fazer ficar tudo bem.”

Ele não tem o controle da situação, muito pelo contrário, fora daquele carro sua vida pessoal está em ruinas e sua carreira está acabada. Dentro de 90 minutos Ivan perdeu a esposa, a casa, o convívio diário com os filhos, o emprego, que manteve como funcionário exemplar por nove anos, e estava a caminho do hospital para receber o filho que gerou com uma mulher, em uma noite de comemoração do trabalho, de forma platônica e impessoal.

Mas o eixo principal é que ele está tentando fazer a coisa certa, ele escolheu ficar bem e fazer tudo ficar bem ao seu redor, mesmo sem ter o controle da situação e utilizando a razão. Ele confessa sua traição a esposa ainda no carro, e segue para maternidade que fica no centro da cidade por mais de uma hora, para ver o nascimento do filho, porque ele se sente que é, e é de fato, responsável por tudo aquilo. Ele encara de frente e assume as consequências.

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Ivan mesmo sendo demetido, por não poder comparecer ao descarregamento de concreto que vai acontecer no dia seguinte na obra que ele é responsável, ele se responsabiliza de fazer todas as checagens e garantir que tudo estaria no lugar para o recebimento do concreto. Ele motivou o funcionário que estava com ele na linha, lhe contando sobre os problemas que surgiam durante a checagem, ajudando o mesmo a resolver. Comemorou o gol da vitória de seu time de futebol com os filhos, consolou a esposa que se sentia despedaçada pela traição e acalmou a mulher assustada que ia dar à luz seu filho naquela noite,  tudo por ligação.

Nos intervalos de uma ligação e outra, Ivan “debatia com pai”, sobre a conduta de ser um homem de verdade. Percebemos que quando ele olha pelo retrovisor para falar com o pai, o banco de trás está vazio. E entendemos que aqueles desabafos pessoais são carregados de dor, culpa e mágoa por um pai ausente e já falecido.

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Durante as falas ele repete que não será como o pai, e entendemos que ele foi abandonado por seu primogênitor ainda na infância, e por isso para ele é tão importante reparar seus erros e assumir suas responsabilidades.

Ivan Locke não é um herói e está muito longe de ser um mocinho, ele é apenas um homem comum tendo um dia difícil. Mas dentro de todas as escolhas que ele poderia fazer, ele escolheu ficar bem e fazer o que era certo.

O filme termina de forma melancólica, brevemente Ivan para o carro, ao receber a ligação da mulher que o aguarda no hospital, do outro lado o bebê chora e Ivan chora também. Ele respira e segue viagem ao seu destino. O final não deixa aberta nenhuma questão (em minha opinião), pois o objetivo não é definir se ele chegou ao destino e sim como foi seu percurso.

Cheios de cores frias e silêncios questionadores, o filme Locke nos faz refletir sobre comportamento do ser humano diante da instabilidade da vida.

Um ótimo filme. Eu recomendo.

“Até mesmo a hora mais sombria tem apenas 60 minutos.” -Morris Mandel

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